terça-feira, 25 de março de 2008
Sistema de saúde está desarticulado e especialidades em falta podem cobrar o que querem
O bastonário da Ordem dos Médicos, Pedro Nunes, traça um panorama negro do serviço de saúde, onde identifica uma "total desarticulação" num sistema que "não tem outro remédio" senão pagar a determinados médicos especialistas o que estes exigem.
"A desarticulação é total e com perspectivas muito graves", disse Pedro Nunes à Agência Lusa. Para o bastonário, a aplicação de uma lógica puramente económica leva a que, dada alguma carência de médicos especializados em várias áreas, estes acabem por cobrar os preços que querem sem qualquer regulamentação.
Pedro Nunes atribui a desarticulação do sistema a políticas que começaram quando António Correia de Campos foi ministro da Saúde durante o governo de António Guterres. "A evolução foi sempre no sentido de criarmos o dito mercado: hospitais transformados em empresas, contratos individuais de trabalho", disse.
Discrepâncias salariais causam desconforto
O resultado foi, para o bastonário, a "desarticulação" e dá o exemplo das discrepâncias salariais que se encontram num serviço de urgência. "Quem chega a uma urgência encontra médicos a ganhar 10 euros à hora, outros 18 e outros 100", o que "cria um enorme desconforto”.
Pedro Nunes não vaticina um final feliz: "Isto pode atingir pontos de ruptura do sistema", se os médicos tiverem de escolher entre o público e o privado. E aproveita para ressalvar que "não foram os médicos a reivindicar isto".
A responsabilidade recai sobre "alguém que se lembrou de retirar o défice dos hospitais do défice público, por causa dos célebres três por cento de Bruxelas, pegou nos hospitais e disse que deixavam de ser públicos e passavam a ser privados".
Culpas que não se ficam por aqui. "Se tivessem feito isto apenas nos hospitais, mas depois resolveram inventar a roda e encher os hospitais de gestores e administradores".
Para o bastonário, "estas modas do privado são modas e é preciso saber até que ponto têm correspondência real e são eficazes".
Médicos deviam ser remunerados de forma mais correcta
Pedro Nunes diz ter muitas dúvidas quanto aos salários atrabuídos na medicina. "Acho que os médicos deviam ser remunerados de uma forma globalmente mais correcta, ou seja, um médico que trabalhe para o serviço público devia ter uma obrigação em termos de trabalho e de horas que fosse assumida e cumprida, com uma remuneração suficiente e justa, dentro do quadro do que é o país (quem quer enriquecer não vai para medicina)."
"Defendo uma remuneração básica justa e depois um suplemento para quem trabalhe mais, mas que não seja uma diferença tão grande que crie estes abismos que hoje estão a ser criados e que vão destruir o sistema", avisa.
Pedro Nunes critica também o sistema biométrico de controle de assiduidade e pontualidade dos médicos (introduzido nos hospitais), garantindo que "não tem qualquer vantagem".
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