Quando Lady GaGa era uma miúda, cantava para o seu pequeno gravador de cassetes de plástico ao som dos êxitos de Michael Jackson e Cyndi Lauper e o seu pai rodava-a no ar com a música dos Rolling Stones e dos Beatles em fundo. Essa criança precoce dançava à volta da mesa em restaurantes elegantes do Upper West Side, utilizando gressinos, um tipo de pão crocante e fino, como batutas. E, inocentemente, saudava cada nova babysitter vestida apenas com o seu fato de aniversário. Não admira que a pequena rapariga de uma família nova-iorquina de origem italiana se tenha transformado na multitalentosa e exibicionista cantora-compositora com queda para o teatro que é hoje: Lady GaGa. “Sempre fui uma entertainer. Era extravagante quando era pequena e sou extravagante agora”, diz Lady GaGa, de 23 anos, que construiu o seu nome na cena nocturna do Lower East Side graças à contagiante e festiva canção dance-pop “Beautiful Dirty Rich” e às loucas, teatrais e muitas vezes irónicas actuações “shock art” onde GaGa – que desenha e faz grande parte das suas roupas de palco – se despia até ficar apenas de excitantes hot pants feitas à mão e biquini, fazia fogo com latas de laca e posava enquanto uma bola de espelhos descia do tecto ao som orquestral da banda sonora de “A Laranja Mecânica”. “Sempre gostei de rock e pop e teatro. O momento em que descobri Queen e David Bowie foi quando tudo realmente começou a fazer sentido para mim, ao perceber que conseguia fazer as três coisas”, diz Lady GaGa, que tirou o seu nome da canção dos Queen “Radio Gaga” e cita as amigas do rock, a personagem Peggy Bundy da série “Married... with Children” e Donatella Versace como os seus ícones da moda. “Olho para estes artistas como ícones da arte. Não se trata apenas de música. Trata-se da actuação, da atitude, do visual; trata-se de tudo. E aí é onde vivo como artista e é isso que quero conseguir.” O objectivo pode parecer grandioso mas vejamos a artista: GaGa é a rapariga que aos quatro anos aprendeu a tocar piano de ouvido. Aos 13 tinha composto a sua primeira balada ao piano. Aos 14 participava em noites de microfone aberto em discotecas como o Bitter End de Nova Iorque, enquanto de dia era gozada pelos seus colegas da Convent of the Sacred Heart School (a escola privada de Manhattan frequentada por Nicky e Paris Hilton) graças ao seu estilo excêntrico e peculiar. Aos 17 anos tornou-se um dos 20 miúdos no mundo a ser admitido na Tisch School of the Arts da Universidade de Nova Iorque. Contratada por alturas do 20.º aniversário e após compor canções para outros artistas (como as Pussycat Dolls, além de pedidos para escrever para uma série de artistas da Interscope) antes do seu álbum de estreia ter sido lançado, Lady GaGa ganhou o direito de tocar o céu. “O meu objectivo como artista é o de canalizar um disco pop para o mundo de uma forma muito interessante”, diz GaGa, que escreveu todas as letras, todas as melodias e tocou a maior parte do trabalho de sintetizadores no seu álbum, The Fame (Streamline/Interscope/KonLive). “Quase pretendo enganar as pessoas, para que estas se agarrem a algo que é verdadeiramente cool, com uma canção pop. É quase como se fosse uma colher de açúcar e eu fosse o remédio.” Em The Fame, é como se GaGa pegasse em duas partes de dance-pop, uma de electro-pop e outra de rock com uns pingos de disco e burlesco e os deitasse generosamente dentro dos simbólicos copos de martini do mundo, num esforço para deixar toda a gente embriagada com o seu Fame. “The Fame é sobre como qualquer pessoa se pode sentir famosa”, explica. “A cultura pop é arte. Ninguém é cool por odiar a cultura pop, por isso abracei-a e pode ouvir-se isso por todo o The Fame. Mas é uma fama partilhável. Quero convidar-vos a todos para a festa. Quero que as pessoas sintam um bocado deste estilo de vida.” A faixa de abertura do CD e primeiro single, “Just Dance”, deixa a pista de dança a rockar com a sua “vibração divertida, muito L.A. e festiva”. Já para o igualmente catchy “Boys, Boys, Boys”, GaGa não se importa de fazer uso das influências que tem na manga. “Queria escrever uma versão feminina do 'Girls, Girls, Girls” dos Motley Crue, mas dando uma volta à minha maneira. Queria compor uma canção pop que agradasse aos rockers.” “Beautiful Dirty Rich” resume os seus tempos de auto-descoberta, quando vivia no Lower East Side e se entregava às drogas e às festas. “Essa altura, e essa canção, era eu a tentar apenas perceber as coisas”, diz GaGa. “Assim que agarrei os rédeas do meu talento artístico, apaixonei-me por ele, mais do que fiz com a vida festiva.” À primeira audição, “Paparazzi” pode parecer uma canção de amor às máquinas fotográficas e, com toda a honestidade, GaGa brinca: “A um certo nível, é MESMO sobre 'namorar' os paparazzi e querer ser famosa. Mas não é para levar muito a sério. É sobre alguém obcecado com essa ideia. Mas é tambem sobre querer que um tipo te ame e a luta entre querer sucesso ou amor ou ambos.” GaGa mostra a sua paixão por canções de amor em faixas mais suaves como “Brown Eyes”, influenciada pelos Queen, e “Nothing I Can Say (eh eh)”, tema sobre uma separação tramada. “'Brown Eyes' é a música mais vulnerável do álbum”, explica. “'Eh eh' é a minha simples canção pop sobre encontrar alguém novo e acabar com o antigo namorado.” Para a nova digressão deste álbum, os fãs vão ter direito a uma versão mais refinada daquilo que viram (e adoraram) no seu aclamado espectáculo no Lollapalooza, em Agosto de 2007, e na actuação na Winter Music Conference, em Março de 2008. “Este novo espectáculo é a versão alta-costura da minha actuação costurada em casa dos últimos anos. É mais afinado mas alguns dos meus elementos favoritos dos espectáculos anteriores – as bolas de luzes, as hot pants incríveis, as lantejoulas e os saltos altos – vão continuar. Apenas de forma mais fogosa e num espectáculo mais conceptual, que deita o olho a uma artística performance pop.” Já passou algum tempo desde que um novo artista pop conseguiu subir na vida na indústria musical à maneira antiga, desde baixo, pagando as suas dívidas com concertos em discotecas miseráveis e auto-promoção. Esta é uma estrela pop em ascensão que não foi escolhida num casting para modelos, nasceu numa família famosa, venceu um concurso de televisão para cantores ou brotou de uma sitcom para adolescentes da televisão por cabo. “Fiz isto como deve ser feito. Toquei em todas as discotecas de Nova Iorque e fui um fracasso em cada uma delas. E depois arrasei em cada discoteca dessas e descobri-me enquanto artista. Aprendi a sobreviver como artista, a ser verdadeira e como falhar e depois percebi quem era como cantora e performer. E trabalhei no duro.” GaGa acrescenta com uma piscadela de olho: “E, agora, estou apenas a tentar mudar o mundo uma lantejoula de cada vez.”
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